
A verdade sobre assessoria de imprensa em Salvador
Vamos ser francos. Salvador, Bahia, é uma praça extremamente relacional. Para atuar aqui, você precisa ter uma assessoria de imprensa local, em Salvador. Aquelas abordagens tipo “atendo em qualquer cidade, faço qualquer negócio”, não funciona aqui.
Assessoria de imprensa, assessoria de relações públicas, assessoria de mídia, todos esses serviços, por sua natureza, demandam uma atuação especializada, na praça em que sua empresa está situada. São os profissionais focados, cientes das suas potencialidades e limitações, que vão ser capazes de resolver os problemas de comunicação e marketing que você precisa que sejam resolvidos. “Pau para toda obra e mestre de ninguém” realmente não vai te ajudar.
Durante mais de 26 anos da minha agência de comunicação Cibermídia, frequentemente sou procurada por clientes para desenvolver assessoria e consultoria de imprensa em outros estados. Porém na quase totalidade das vezes minha resposta é não. Acredito que empresas em outros estados estão em posição estratégica mais adequada para atender clientes naqueles lugares. Para quem acha que pode fazer tudo, de suspensão de piano a atracagem de navios, vale a pena rever o conselho de Philip Kotler a respeito de que você não deve atuar em nichos em que não pode ser o melhor.
Para ser totalmente honesta, eu confesso que em alguns raros momentos eu até assumi a assessoria de comunicação em empresas situadas em outros estados, mas por contextos bastante específicos. Por exemplo, quando fui convidada para assumir a assessoria de imprensa de empresas de Flora e Gilberto Gil. Assumi com a Cibermídia o trabalho assessoria da Aláfia Produções e Eventos e a Editora FG, mas também da Gegê Produções, da Refazenda e Geleia Geral, no eixo rio-são Paulo. Isso incluía coletivas de imprensa em São Paulo, porém situações como essa foram exceções e geralmente envolviam atuações centrais também aqui na Bahia.
Me lembro da primeira abordagem que recebi para atendimento da Ambev. Quando consultada se minha empresa tinha interesse em atender a companhia em um estado do norte do Brasil, a minha resposta foi não. Posteriormente, fui procurada novamente, com uma demanda mais regional aqui no Nordeste e acabamos atendendo a companhia por mais de cinco anos.
Mas preferi não assumi outros estados que não fosse a Bahia, porque obviamente outras empresas que estão situadas naqueles estados têm diferenciais competitivos para agregar mais valor ao cliente. E foi muito produtivo atuar em parceria com empresas locais de outros estados, cada uma em seu respectivo “quadrado”. Além disso, todos juntos, trabalhamos diariamente, em parceria, com colegas também muito competentes da Máquina da Notícia e da In Press, que estão entre as maiores agências do nosso setor no Brasil.
Do mesmo modo, é inegável que uma empresa de assessoria de imprensa situada em Salvador Bahia, com pessoas que vivenciam este mercado a vida inteira, têm muito melhor condição de atender clientes aqui. Principalmente em se tratando desta praça relacional que é Salvador.
O baiano tem uma forma específica de viver, de interagir, de se relacionar e de fazer negócios. Por outro lado, sei que em cada um dos outros estados também existem peculiaridades que só quem vive ali consegue entender. Falando nisso, lembrei do cantor Carlinhos Brown. Um dia, lá no seu Candyall Guetho Square, no bairro do Canadeal, em Salvador, comentava com ele como é incrível as formas como as pessoas daquele lugar se relacionam com ele. Ele na maior simplicidade e com sentimento de pertencimento, me disse, “sou daqui”.
Sim, “daqui” pode ser interpretado como conectado neste mundo, neste lugar de bom convívio, trato direto, informalidade. Brown, que é um individuo de grande capacidade, praticamente uma organização, é também um símbolo de ser humano gentil, cordato, empático, sorridente e agradável, uma representação do jeito baiano de ser.
Aqui na Bahia, como em qualquer lugar do mundo, faz totalmente sentido o conceito de “pensar globalmente, agir localmente”, proposto pelo sociólogo alemão Ulrich Beck. Essa área em que atuamos, a comunicação, é uma das que mais tiveram modificações nas últimas duas décadas. Quase tudo mudou neste campo. Impérios de mídia afundaram. Grandes conglomerados econômicos entraram em decadência, outros players emergiram do nada e se tornaram os grandes gigantes.
Como alguém que ingressou na faculdade de comunicação da Universidade Federal da Bahia em 1992 e concluiu a graduação em 1996, na chegada da Internet ao Brasil, acompanhei plenamente todas as mudanças. Diante de toda a dinâmica do mercado, vejo que nunca foi tão necessário “pensar globalmente e agir localmente”, com tanta impessoalidade dessa era digital. Essa era em que vivemos é também uma era de paradoxos. As redes sociais aproximam as pessoas e as distanciam. As tecnologias nos fazem economizar tempo e, ao mesmo tempo, são vorazes e perigosas, fazendo com que a gente desperdice todo o tempo disponível.
Nunca fomos tão globalmente relacionados com tantas pessoas e simultaneamente nunca estivemos tão sozinhos nas cidades. E, portanto, nunca desejamos tanto o contato “real” com outras pessoas. Até o algoritmo do Google procura valorizar o que não é automatizado, o que tem o toque manual e humano de elaboração.
Após a pandemia covid-19 e sempre depois de tantas horas de tela, queremos sair por aí conversando com as pessoas na rua, trocando experiências e tendo contato humano. O baiano é assim, sabe? A gente faz amizade em fila de supermercado, fica amigo de infância de gente que acabou de encontrar na barraca de verduras. A gente colabora, ajuda os outros, cede passagem sem se preocupar da outra pessoa ficar desconfiada, imaginando o que é que a gente vai querer ganhar com isso.
A comunicação com a imprensa, aqui em Salvador, Bahia, acontece praticamente no âmbito da comunicação entre amigos… porque sim, aqui a gente não perde a oportunidade de firmar relações, estabelecer novos vínculos e fazer amigos. Amizades que frequentemente vazam para o âmbito pessoal.
O baiano típico gosta disso, a gente gosta de pessoas. Não tem uma coisa separada de o que é relação de trabalho e o que é relação de amizade. Aqui a gente se permite ser espontâneo, informal e agir com naturalidade.
Isso não significa que a gente seja pouco profissional. É uma comunicação natural como deve ser, entre pessoas, empática colaborativa. A recompensa é o prazer de interagir, de conversar, de ouvir e ser ouvido.
Nessa Era das Transformações, da Velocidade e da Exposição, a gente que é baiano fica feliz em fazer amigos do mundo inteiro e em receber as pessoas, de mostrar com orgulho nossa cidade. De marcar para tomar café com os jornalistas, colegas que estão do outro lado do balcão, trabalhando com os veículos de mídia, enquanto que a gente resolveu cumprir missão para auxiliar as empresas na sua jornada de comunicação.
Certa vez, recebi na nossa sede da Cibermídia Comunicação Marketing um executivo que era diretor de uma multinacional que atendíamos no âmbito de comunicação e que, naquela altura, tinha assumido a direção geral de uma empresa de telecomunicações, na Bahia.
Ele me procurou para conversar sobre o mercado, para pedir algumas dicas, e sentado ali, tomando comigo um café, me pediu que eu o convidasse para todos os eventos que tivéssemos na cidade. “Impressionante como aqui tudo funciona na base dos relacionamentos. Tudo é um indicando o outro. Sempre é a pessoa querendo saber qual é sua família, onde você morou, onde você estudou e quem você conhece aqui na cidade. Difícil para mim”, ele me confessou.
Esse executivo de São Paulo estava assombrado porque tinha percebido a dinâmica personalizada da cidade. Eu disse a ele que, de fato, em Salvador, há um grande interesse na história da pessoa e aqui funcionam fortemente essas redes de relações em que todos conhecem todos.
Até comentei com ele que esta característica de personalidade era um fator protetivo para os negócios. Como todos sabem tudo sobre todos, se alguém atua de forma desonesta no mercado, acaba que isso chega ao conhecimento de outros facilmente.
Um outro executivo de um país hispânico que assumiu a direção regional de um uma holding latino americana também veio se queixar comigo. Para compensar A falta de conhecimento de pessoas quando chegou em Salvador, ele me contou que olhava nos veículos de comunicação os eventos sociais que aconteciam na cidade e ia com a esposa, mesmo sem ser convidado. “Chegando de terno, com roupa apropriada para o evento, ninguém nos barra”, me disse rindo.
O jeito baiano e receptivo de ser tem muito de habilidades sociais e de comunicação. Conversar francamente com pessoas que acabamos de conhecer não gera desconfiança aqui. É uma satisfação e alegria para todas as partes envolvidas. Aqui a gente se mistura facilmente.
Como diz o compositor Gerônimo na sua música “seja tenente ou filho de pescador, ou um importante desembargador”. Se der presente é tudo uma coisa só”. Em “É D’Oxum”, ele canta ainda que nesta cidade que brilha reunida “homem, menino, menina, mulher. Toda essa gente irradia magia.
“Seja tenente ou filho de pescador, ou um importante desembargador”.
Aqui a gente faz amizade em banca de revista, em padaria, junto à balaustrada da Orla quando todos param para ver o pôr-do-sol, em café de cinema. O baiano tem algo de “dado”, de solidário. Aqui tenho amigos que nasceram em outros estados e países e se tornaram “baianos”, ao longo do tempo. Sim, porque baiano não tem a ver só com lugar que você nasce, mas tem tudo a ver também com o que você se torna.
O estilo de comunicação interpessoal do baiano, por conceito, é alegre, animado, acolhedor, gentil e inclusivo. O baiano não discrimina e não quer ser discriminado. Tem orgulho de sua alegria, da animação presente em todos os lugares da sua terra.
Você pode nascer baiano, mas também pode se tornar gente da Bahia. Essa gente feliz, animada, que gosta de papo, que forma grupo de interesses em comum e pressão, até em poucos segundos, em um lado da calçada, quando vai atravessar a rua.
O estilo baiano de ser é humano e muitas vezes dócil. Mas o baiano também é energicamente assertivo em relação aos seus valores e em relação a aquilo que acredita
A Bahia é a terra da alegria e da comunicação, é a terra das conexões é a terra de todos. Muito antes de se falar em inclusão e tolerância, a tônica da Bahia já era assim. A gente é índio, é africano, é europeu, é tudo junto, é verdadeiramente mestiço e brasileiro.
Vamos ser francos, e eu lhe digo com toda a sinceridade, na era global, na aldeia global, a gente pode atender, como agência de comunicação empresa em qualquer lugar. Mas é necessário deixar claro que cada agência é especialista na praça em que está situada. Precisamos ter essa humildade, clareza e honestidade.
Meu máximo respeito a todos que conseguem compreender isso. Sigamos alinhados, focados na clareza de nossos pontos fortes e fracos e na percepção quando a gente pode atender da melhor maneira o cliente ou quando a gente pode recomendar outras equipes de comunicação situadas em outras praças.
Um abraço forte e sucesso a todos!
Jornalista e CEO da Cibermidia comunicação marketing